Foi o labirinto que me levou
à literatura de Affonso Romano de Santana. As crônicas de Como caminhar no labirinto me deixaram com vontade de conhecer seus
outros textos literários. Por isso, quando me deparei com Intervalo amoroso & outros poemas recolhidos o nome do autor fora
o suficiente para me atrair e só bastou passar os olhos em um dos poemas para
querer levá-lo comigo. Instante de amor foi
o primeiro poema que li (ainda na livraria) suas últimas estrofes ficaram se
movimentando em meus pensamentos “Me ame apenas/ no imenso instante/ em que te
amo./ O antes é nada/ e o depois é morte”.
Depois foi difícil
escolher os que mais me tocaram. Mas, a fim de ilustração falarei de alguns:
Em tempos de culto à
juventude versos como Estou amando tuas
rugas, mulher [...] Essas rugas são
sulcos/ onde aramos a messe do possível amor no qual o sujeito poético,
através da metáfora da ruga, revela a maturidade de seu amor. A leveza proposta
por Calvino torna tantos poemas do livro mais belos ou, talvez, seja a beleza
que os deixe mais leve, como no poema objetos do morto: Os objetos sobrevivem
ao morto:/ os sapatos/ o relógio,/os óculos,/sobrevivem/ ao corpo/ e solitários
restam sem conforto/ Alguns deles como o livro/ ficam com o destino torto./
Parecem filhos deserdados/ ou folhas secas no horto./ As joias perdem o
brilho/embora em outro rosto./ Não deveriam deixar pelo mundo/ espalhados/ os
objetos órfãos do morto, pois eles são, na verdade, fragmentos/ de um corpo.
Em flor da tarde: Ali, na
junção das coxas com o tronco, suspiravas/ e a doce fúria de minha língua
jardineira/ tua carne floreava” a metáfora da flor emite cheiro e beleza
que se misturam na última estrofe, nos legando o mais lindo poema erótico que
já li.
Amor, morte, Brasil,
história, erotismo e poesia são retratados no livro de uma maneira que só a
literatura conseguiria, ou melhor, só um bom poeta seria capaz de expressar.
Ritmos, imagens, metáforas atravessam o livro e o leitor. Intervalo
amoroso & outros poemas recolhidos provocou em mim reflexões, lirismo e
muito deleite.