LENDO CONFREIRAS
O canto da borboleta de Rita Queiroz (Penalux, 2018)
Para Octávio Paz “a
poesia é um caracol onde ressoa a música do mundo”. A poesia de Rita Queiroz
capta as emoções do mundo e a transforma em ritmo, alento, canto. Trata-se de
uma poeta que transita pela história da literatura e da mitologia para fazer
ecoar sua poesia: “Risos e lágrimas se amalgamam/ No paraíso de Dante e Beatriz/
Na beleza cruel do palhaço/ Paisagem diluída nas recordações de outono”, “Assisto
a tudo Embriagada por Baco”.
Imagens fortes e belas
metáforas marcam o ritmo deste canto. São poemas que convidam o leitor a
refletir metamorfose da borboleta, metáfora da própria vida. E a borboleta
também representa o despertar da poeta para a escrita: “Na terceira margem está
o trilho/ E o canto plural das andorinhas/ Na bagagem, pedaços de esperança/ Reescrita
inconfessável da borboleta.”
O amor e a passagem do
tempo são notas marcantes d’O canto da borboleta. No poema (in)certezas, por
exemplo, o amor-paixão transborda e a dor leva ao questionamento: “Oh! Afrodite
e Zeus/ Por que deixastes Cupido me flechar?/ E agora, que rumo tomar?/ Pegar
um táxi para a estação lunar?/ Ou me desaguar no horizonte/ sem cais para me
aportar? ” O amor inquieta e alimenta o sujeito lírico que ora canta sua dor,
ora apenas confessa suas memórias: “Meu amor em digitais/ Se tatua na tua
retina/ Nas filigranas de pretéritos mais-que-perfeitos”.
A passagem do tempo ganha imagens que
“perfuram a alma e rasgam o ventre” também do leitor: Pedaços de eternidade/ Habitam
o porta-retratos/ Decifram minha incompletude/Prenhe de esquecimento”. Seja
pela consciência dolorosa da fugacidade da vida ou da tentativa frustrada de
eternizar momentos, o sujeito poético se apropria da escrita e nos presenteia
com versos belíssimos:
“Um
sopro divino rompe o silêncio
[ao som de violinos
No
desfiar eterno do rosário
Sorrisos
fecundam a alma
E
as nesgas de lembranças flutuam
[por entre os cactos”
A poesia, como é
definida no poema, recordações de outono é uma “Oração que cala o abismo”. A
poética da autora transita pelos abismos para tentar compreender seus eus e com
“o olhar preso no carrossel encantado/ Implode o descompasso e ressurge na
brisa apaixonante do verão.” Assim, a poesia, que nasce dos abismos, é o canto
que afaga a alma. A leitura dos poemas
de Rita Queiroz nos faz atravessar nossos próprios abismos e acalenta alma.
Érica
Azevedo