Lampadário reúne
contos de quatro décadas de produção literária de Gláucia Lemos, selecionados pela autora. Nas
páginas desta antologia encontramos narrativas habilmente tecidas pela
imprevisibilidade que, entre outros aspectos, conduz o leitor para um caminho
desconhecido e/ou mágico. A escritora
organiza seus textos de modo que as informações são reveladas (pelo narrador ou
personagens) aos poucos, como uma excelente jogadora cujo tabuleiro é a
linguagem, sem preocupação com a lógica da realidade, exigindo o máximo de
atenção do leitor.
As narrativas da autora de Todas as águas (2015) não somente vencem por nocaute, como diria Cortázar, mas
também socam-nos o estômago em alguns momentos e afagam-nos em tantos
outros. São textos densos que prendem a
atenção do leitor e os presenteiam com intrigantes histórias e belas metáforas.
E a força das figuras femininas criadas pela escritora
baiana? São personagens que sabem
suportar as dores e os infortúnios de seus destinos. Aliás, mulheres que tomam
para si as rédeas de suas vidas, sejam por meio da vingança, da busca por seus
amores ou da própria morte. Não há como esquecer a atitude de Lina em
“lampadários do céu”: “ [...] a mulher levantou o braço, e, quase sem esforço,
os pés apoiados nos dedos dobrados, apanhou a estrela mais próxima, de luz
intensa como a de um lampadário. Soprou-a com força[...] E, assim, foi soprando uma a uma, todas as
estrelas do céu e as apagando.” (p.46-47). Raquel, em “as esmeraldas”, que
inicialmente parece não ter força para ceder à exploração do marido, surpreende-nos ao escolher pagar um alto preço pelo que acreditava ser sua
dignidade: “Fez um gesto de desolação, mas de repente ergueu a mão direita,
retirou um dos olhos e entregou-o ao homem” (p.140).
Em contos como “as araras” e “o sinal de nascença”, por
exemplo, o maravilhoso intriga o leitor (e os personagens). No primeiro
acompanhamos as lembranças do personagem e somos levados a um salão
inesquecível cuja localização não se conhece, mas traz uma enigmática prova
daquele ambiente: “[...]duas araras vermelhas que acorrentara” (p.121). Em
“sinal de nascença”, uma visita a uma antiga casa grande de engenho revela que
a herança da personagem não se restringiu apenas aos bens materiais de seus
bisavós.
Que a literatura produzida por Gláucia lemos é merecedora de
elogios dos leitores e da crítica não é novidade. Mas é sempre uma agradável surpresa a leitura de suas obras!
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